Já passaram 6 anos.
Éramos 3 e iamos ser 5.
Foi tudo sempre diferente.
Numa segunda gravidez, esperamos que seja idêntica à primeira. Tal não aconteceu.
Para além de serem duas e de a gravidez ser muito, mas muito mais vigiada, a minha segunda experiência como grávida foi muito mais simples. Sim estava enorme, sim no fim já nada me servia, nem no corpo, nem nos pés, já só tinha vontade de rebolar... mas isso foi no fim.
Das gémeas quase que não tive enjoos, não tive sono, não tive azia e mais importante não tive ataques de falta de ar, ou seja, a minha natureza contribuiu para que fosse mais fácil a maturação destas bebés que viriam a mostrar um instinto de sobrevivência único.
Lembro-me de ir à consulta, de dizer à médica que já não aguentava mais, olhar para a balança e imaginar que mais um pouco e a barriga rebentava, marcámos encontro para a próxima semana... iríamos provocar ás 36 semanas... e dizia ela "foi um milagre chegarmos aqui".
Fui para casa... mais um dia normal...
Foi nessa madrugada que senti algo incómodo, acordei e de repente, senti-me literalmente inundada, uma bolsa rebentou (na altura não sabia que tinha sido só uma... e quando me disseram não acreditava, porque era tanta água!!!), acordei o Jorge e com toda a calma preparámos tudo... mal conseguia andar, era água que nunca mais acabava!!!
Cheguei ao hospital ainda estava escuro, fui logo super bem recebida... até aqui a experiência foi tão diferente da Matilde.
A enfermeira que me recebeu foi super atenciosa e apartir daí toda a equipa foi sempre muito carinhosa comigo... eu ia ter duas meninas.
O Jorge esteve sempre comigo... e quando chegou a hora, disseram é agora mãe, já não há tempo para anestesia, vamos ter de as deixar sair agora... e eu não queria, lembrava-me do parto da Matilde e não queria voltar a passar pelo mesmo. Mais uma vez foi a equipa de enfermagem que no meio daqueles minutos que quase parecem horas me ajudou, eram duas salas, portas abertas, mais de 10 pessoas para fazer nascer um milagre a dobrar.
A médica rebentou as águas à Madalena e ela nasceu... quase que não a vi... das 10 pessoas 4 desapareceram da sala e acompanharam aquela bebé, para a sala em frente. A médica estava a tratar da recolha das células e eu digo-lhe, cuidado que vai nascer a outra... e nasceu... nasceu assim super rápida... senti-a, mais uma filha, mais um milagre, um milagre um pouco mais pequeno, que também quase não cheguei a ver.
Naquela altura elas as duas deviam ter umas 6 pessoas de volta delas.... estavam longe de mim... não percebia nada do que estavam a dizer ou a fazer ás minhas meninas. Foi quando decidiram que iam ficar internadas... e aqui sim a experiência deixou de ser super positiva... para a fase mais difícil de uma mãe...
Trouxeram-nas ao pé de mim... e só as voltei a ver à noite à hora do jantar.
Lembro-me de odiar a hora das visitas, lembro-me de odiar estar no meio das outras mães com os seus bebés, lembro-me até de odiar o Jorge porque ele esteve com elas e eu não.
Lembro-me de as querer ir ver e não ter conseguido por-me de pé...
Já à noite fui numa cadeira de rodas ver as minhas meninas, na altura acreditei que era só aquela noite que elas ali iam ficar, eram tão pequeninas.
No dia a seguir é que comecei a perceber que afinal não ia ser um dia que ali iam ficar... elas não sabiam comer, não tinham nascido com reflexo da sucção e como tal tinham que aprender!!!
Posso dizer que foram os 10 dias mais confusos da minha vida.
A minha memória dessa altura, é somente emoções, cada memória que tenho está associada a uma emoção.
Eu estava em piloto automático, tinha uma única missão, trazer as minhas filhas para casa.
Quando passamos dias na Neonatologia de um Hospital, descobrimos uma realidade nova, as enfermeiras e as auxiliares dali passam a ser as nossas amigas, confiamos nelas o nosso maior tesouro os nossos filhos e de verdade que ajudou ter lá uma pessoa amiga, que mais facilmente percebia a minha loucura da altura.
Eu tinha imenso leite e as minhas filhas não o sabiam beber.
Foi um processo longo e depois de várias experiências e de muitos dias a ver a Mariana a perder peso, desisti...optámos pelo biberão e no dia a seguir já a ganhar peso... tivemos a notícia que iríamos todos para casa.
Lembro-me do Jorge chegar com a Matilde e irmos os 5 para casa.
Não gosto de pintar quadros cor de rosa, mas a verdade é que a nossa chegada a casa parecia isso... parecia um final feliz.
Estava tudo pronto, tive a sorte de uma amiga, vir arranjar a casa toda porque sabia que as meninas iam chegar nesse dia... camas feitas... com os bonequinhos delas e um grande ramo de flores à minha espera... foi muito bom.
Apartir daí foi ganhar rotinas e ainda hoje é essa a missão, porque as minhas gémeas são umas sobreviventes e como tal para elas tudo é um obstáculo a ser transposto.
Com elas descobri que o ser humano tem em si uma capacidade natural para superar tudo. Que tudo pode ser conquistado, que tudo é um desafio.
São meninas com uma energia única.
São meninas que nos mostram uma outra dimensão na experiência de ser mãe.
Isto porque o normal é a mãe ser a primeira resposta, procura ou alento de qualquer filho, no caso das minhas gémeas (e aqui eu não gosto de generalizar e dizer no caso de gémeos, porque eu não conheço mais nenhuns só as minhas!) a nº. 1 é sempre a outra...
É incrível a percepção delas sobre guardar um segredo, elas percebem que não podem contar a ninguém, só não percebem que não podem contar uma à outra. É como se houvesse de facto uma ligação maior que à mãe... e isso é incrível.
E assim chego a 2014 a achar que ainda ontem estava grávida e não sabia o que por aí vinha...
1 comentário:
Parabéns às gémeas e aos pais por à 6 anos atrás terem tido 2 princesas tão espevitadas :).
Beijocas
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