sexta-feira, 22 de junho de 2018

Estado actual...

Era para ser 1 mês.
Acabaram por ser quase 4 meses a investigar e a validar o passado dos candidatos que querem trabalhar na maior companhia área irlandesa.

Quando em 2011 deixei o mundo do recrutamento, quase que jurei que não voltaria a fazer o mesmo.
Muito mudou, muito mudei, mas continuei sempre com medo de voltar a esta área.
Mesmo quando mudei de país, tive sempre receio de concorrer neste sector.

Concorri para algo genérico na área administrativa. No fim da entrevista, a entrevistadora perguntou-me porque é que não voltava a fazer recrutamento.
Numa entrevista a pessoa nunca quer dizer que não quer e a verdade é que são mais de 10 anos de experiência nessa área.
Era um mês. Era uma experiência.

Nos primeiros dias ia morrendo.
Pensei que não era capaz de voltar a assimilar tanta informação em tão pouco tempo.
No fim do primeiro dia, só tinha vontade de desistir.

Estou numa equipa de mais de 40 pessoas, das quais cerca de 20 fazem recrutamento.
O projecto era para recrutar mais de 700 pessoas e colocá-las a trabalhar antes do Verão começar.

Cedo se percebeu que não se ia cumprir o objectivo e como tal o projecto ia demorar mais que um mês.
Em pouco tempo passei da fase do não percebo nada disto, para a fase em que estava a dar formação a outras pessoas para trabalharem no mesmo Sistema.
Ao fim de 2 meses, passei a ser a pessoa com mais conhecimento no Sistema, ainda que continuasse como temporária.

Quando o projecto se aproximava do fim, havia novos projectos a começar.
E tive a oportunidade de continuar na empresa, mas desta feita a fazer recrutamento para um projecto inovador.
A empresa quer formar pilotos e abriu um concurso, ao qual responderam mais de 17000 candidatos.
Daqui tem que se avaliar cada um, responder a cada um e escolher os mais aptos e motivados para um projecto que demora cerca de 2 anos de preparação.

Tudo isto provocou imensas alterações na nossa vida familiar.
Cada nova missão exigia novos acordos com o after school das miúdas, novas promessas sobre as visitas à casa das amigas, novas e maiores responsabilidades para a filha mais velha.
Tudo isto foi conquistado, sempre a 5. 
Temos agora também a vantagem de ter a minha Irmã por perto, o que ajuda até a manter a perspectiva, se estamos a fazer as opções mais normais ou nem por isso!

A verdade é que mesmo nos últimos anos em que trabalhei, foram sempre projectos em part-time, em que elas quase que não se apercebiam que eu trabalhava, porque chegavam da escola e a mãe estava em casa. 
As gémeas não tinham noção do que era andar num ATL.
A Matilde percebeu, que afinal estar sozinha tem muito mais responsabilidades do que o aparente prazer que apresenta.

Eu no meio de tudo ainda luto para não desesperar porque a casa não esta sempre como eu gosto, ou o jantar não está pronto à hora que eu gostava. Tenho a sorte de ter um marido que me apoia, tenta entender a minha louca frustração e que efectivamente faz equipa para que tudo corra da melhor maneira.

Tem sido uma montanha russa.
Mas voltar ao mundo do recrutamento, ainda que noutro país faz-me ter a certeza que as pessoas são iguais em todo o lado, que trabalhar como fornecedor é sempre mais difícil do que ser o cliente, que um escritório cheio de mulheres é sempre um ambiente com demasiadas hormonas femininas e  que a intriga e a coscuvilhice fazem parte de qualquer ambiente organizacional. No entanto existem algumas diferença de nível cultural entre os  2 países.
Primeiro que tudo serem mais de 20 pessoas a fazer recrutamento para um pico máximo de 700 admissões nos meses de Verão.
Depois ainda que exista urgência no trabalho, a hora da saída e os fins-de-semana são absolutamente sagrados, nunca a música “nine to five” me fez tanto sentido.
Depois são processos tão grandes, tão cheios de pormenores que pequenos erros são inevitáveis, a reacção ao erro por aqui também é  muito diferente. Não existe um tormento sobre os pequenos erros, a primeira reacção perante um erro é como o corrigir e evitar que volte a ocorrer, mas não se apontam dedos, não se gritam nomes, não se perseguem pessoas.
O trabalho é para se fazer, para se cumprir e não é nenhuma paixão. Paixão é o dia do pagamento em que se pode planear uma loucura. Ninguém tem medo de dizer que trabalha pelo dinheiro, o que torna a relação trabalho muito mais saudável. Não existe a idolatria ao chefe e à empresa.

Alguns destes pontos, já tinha descoberto no tempo que trabalhei no ginásio, mas estava integrada numa empresa pequena, com uma equipa reduzida e muito familiar.Agora o cenário mudou mas muitas das conclusões sobre a cultura empresarial em terras irlandesas são as mesmas que já tinha.

O objectivo depois deste grande projecto é avaliar o que será melhor para mim e para a minha família, mas com mais confiança. Costumava dizer aos meus alunos, que aconteça o que acontecer o conhecimento fica sempre connosco e passado estes anos todos, esta experiencia foi a prova disso.