A história de Henrique Raposo não para de correr nas redes sociais.
Não me incomoda que as pessoas tenham opiniões. Aliás obviamente que a mim não me incomoda em nada, eu tenho sempre imensas e sobre quase tudo! Não sei se alguma vez pronunciei a frase "não tenho opinião sobre isso" sequer.
Mas quando vi o programa, em que o jornalista apresentava o seu livro, a única pergunta que fiz foi: "quais foram as fontes?". Ou seja em que dados é que estas conclusões se baseiam?
Porque para mim um jornalista de artigos de opinião, dá as suas opiniões, ninguém espera muito mais. Mas um livro deveria pressupor mais que a opinião de quem o escreve.
Pois parece que estou errada e que não é assim.
É possível escrever um livro de acordo com a experiência da pessoa e a sua análise e com isso generalizar, ainda que o livro não seja um conto, um romance ou uma ficção.
Ou seja, quando no livro se diz: "os alentejanos", basicamente o autor do livro refere-se aos alentejanos que conheceu na aldeia dos seus avós quando ele lá ia.
Claro que depois de pesquisarmos algo sobre o livro descobrimos que o mesmo é apresentado como um road movie familiar. Mas quando ouvimos o autor, falar na televisão, acreditamos estar a caraterizar um povo.
Quando refere que o "suícidio alentejano, é uma prática colectiva", pergunto-me se sabe a definição de colectivo?
Dado que se pode, basear factos em histórias individuais, tenho uma família inteira alentejana (daquelas que todos os alentejanos têm, com primos em cada rua!!) e nunca ocorreu um suicídio na nossa família! Ou será que nesse ano, falhei eu um evento social da aldeia!?
Aqui o autor do livro ainda mistura o tema eutanásia e afirma que é uma prática comum para um alentejano, defendendo que é praticada em cada suicídio ocorrido em que a comunidade nada faz...
Ora é triste, que um jornalista não saiba diferenciar factos de opiniões, observação própria, de comportamentos comuns. análise de uma aldeia da caracterização de um povo.
E uma das frases que li por aí retiradas do livro até me causaram arrepios: "(...) o reencontro traumático ocorre quando regressam à aldeia os irmãos que migraram para Lisboa; os irmãos que ficaram olham para os irmãos lisboetas e sentem que também podiam ter tido aquela roupa fina e aquela mulher decotada. (...)".
A sério!?
Se era de facto isto que este jornalista sentia cada vez que visitava a sua família em Santiago do Cacém tenho pena, do pouco que a sua família lhe foi capaz de transmitir!
Porque esta terra fica a cerca de uma hora de Setúbal, a da minha família, fica a mais de 2 horas e eu nunca senti que nenhum parente da aldeia tinha inveja do decote da minha mãe!
O autor do livro assume que o Alentejo o desilude. Que achou que ao fazer esta viagem ia reencontrar o seu eu alentejano e que tal não aconteceu, a mim parece-me que foi exactamente essa frustração que deu mote ao livro.
Não é possível sentirmos algo só porque queremos.
Não é possível gostarmos de uma terra só porque é moda e é gira.
A família do lado do meu pai é alentejana e eu adoro o Alentejo. Mesmo que nunca lá vá. Mesmo que já lá não tenha ninguém (o que é impossível para quem tem família no Alentejo).
A família do lado da minha mãe é Ribatejana e eu passei bastantes períodos de férias também por lá, no entanto não me sinto em nada atraída por aquela terra. Ainda hoje dói um pouco a alma à minha mãe, por ela saber isto.
São caracterizões próprias, são gostos individuais, que não é possível termos só porque queremos...
Também não devia ser possível descrever o que vivenciamos enquanto miúdos como se de uma caracterização factual se tratasse.
Foi isto que o jornalista Henrique Raposo fez e esqueceu certamente que ia ofender uma série de gente que é alentejana, que se sente alentejana, mas que não se vê caracterizada em nenhuma das suas referências.
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