Pela primeira vez escrevo um post neste blog. Sou o pai desta família e excluindo alguns comentários nunca intervi neste espaço que é por direito da Mãe Cláudia.
Como sabem temos 3 filhas (lindas é claro) sendo que as mais novas vieram ao mesmo tempo. Tudo isto faz com que a nossa vida se torne um desafio constante. Agora olho para trás e rio-me de achar que não tinha tempo para nada quando a Matilde nasceu. Isto dos gémeos é muito giro nas fotografias mas nesta altura da vida delas tem muito que se lhe diga. A atenção e interacção que temos com elas é mais limitada. A logística para fazer qualquer coisa simples torna-se complicada. Existem muitas tarefas que só podem ser feitas por duas pessoas. A experiência que temos da Matilde não se aplica na maioria dos casos.
Podia ficar aqui o resto do dia a enumerar os desafios e obstáculos que encontramos diariamente.
Mas estes desafios e obstáculos obrigam-nos a crescer e a melhorar. Tornam-nos mais fortes como diz a Cláudia (é verdade... carregar com dois ovos é um exercício de musculação e tanto).
Mas um dos obstáculos mais difíceis tem a ver com as pessoas à nossa volta. Sentimos que existe um afastamento, uma barreira que se criou pelo facto de termos uma família tão grande (e barulhenta). Por um lado compreende-se. Não é fácil conviver com a confusão de crianças, com os pais cansados e que se aproveitam das visitas para pedirem ajuda numa ou noutra tarefa da qual já estão saturados. Também a nossa disponibilidade para os outros não será concerteza a mesma e as nossas prioridades mudaram. Há muitas coisas que deixaram de ser importantes ou interessantes. E assim vai-se instalando um pequeno sentimento de desilusão relativamente à família e amigos.
Como superar isto?
Podemos tentar mudar de alguma forma o comportamento dos outros para nos sentirmos melhor. As hipóteses de sucesso são quase nulas (já foi tentado muitas vezes) e estamos a dar aos outros poder sobre nós, e controlo sobre a maneira como nos sentimos.
Temos que deixar de ligar tanto aos que os outros dizem e fazem (difícil) sem nos tornarmos frios ou indiferentes. Temos que pensar mais nas qualidades que nos fazem gostar das pessoas e ignorar mais os defeitos. Temos que compreender que as coisas que fazem ou dizem são deles e têm a ver com a sua vida e as suas escolhas.
Conforme a nossa vida e as nossas prioridades mudam ficamos mais próximos das pessoas que estão na mesma onda e ficamos mais longe das pessoas que têm ideais e escolhas de vida muito diferentes das nossas. Cada vez que passamos por mudanças na nossa vida existe um período de adaptação em que temos que passar por isto.
No fim sabemos que tudo vale a pena, que estamos a construir uma família. Sabemos que a vida sem desafios é vazia de crescimento e aprendizagem. A vida está em constante expansão e temos que nos superar diariamente para acompanhar os novos desafios que surgem.
Talvez isso explique a empatia que sentimos nos pais de gémeos que encontramos na rua e o olhar que nos lançam de como quem diz: "sabemos o que estão a passar...".
2 comentários:
Eu não tenho gémeos, mas sei o que estão a passar...
olá :)
parece-me que esse sentimento assola-nos a todos, com 1, 2, 3 ou mais filhos.
Tive a sorte de ter a minha amiga mais próxima a engravidar 3 semanas depois de mim, ou seja, o afastamento dela e o meu acaba por ser entendido por ambas as partes.
No entanto durante o 1º ano de vida do feijão senti muito a tristeza das expectativas não correspondidas. Em relação a família e amigos. Esperava que fosse diferente, esperava apoio, ajuda, compreensão. Nada disso aconteceu, ou se aconteceu soube-me a muito pouco. Senti falta dos amigos, a amiga está à distância de um telefonema, mas não é o mesmo. Esperava que todos se sentissem tão felizes pela chegada do feijão como eu, e que tivessem vontade de acompanhar o seu crescimento de perto e ajudar no que fosse necessário. Talvez quisessem guardar uma distância que acham que precisamos e muitas vezes enganam-se.
Por outro lado entendo que quando temos filhos a maior parte do tempo só me apetece falar dele, das suas graças e disparates, porque tudo me parece maravilhoso e miraculoso. Mas eu sou a mãe e entendo que a maior parte das vezes não há muita pachorra para ouvir este tipo de discurso. Daí a empatia que sentimos quando estamos junto a pares, pais, tios/as babadas, etc. Fazem-nos crescer muito sim, talvez por nos sentirmos mais sós neste papel, um processo de autodescoberta e autoconhecimento e vermos o crescer desde o dia 0 com a importância de cada dia poder fazer a diferença na vida de alguém."viver como por magia a vida num só dia", é como eu vejo o tempo, que considero sempre pouco, que passo com o meu feijão.
Beijos à família.
Gostei de te ler aqui.
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